Pavimentos Industriais de Concreto Armado
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Concreto
fresco
Quando se adiciona água ao cimento, obtém-se uma pasta de consistência plástica que pode ser
moldada com maior ou menor dificuldade, função da sua viscosidade, que é diretamente propor-
cional à quantidade de água.
Essa característica permanece praticamente inalterada por um determinado período, denominado
estágio de dormência, no qual aparentemente não há reações químicas em curso. Na realidade o
período de dormência não é de inatividade química, havendo o crescimento dos cristais de etringi-
ta
1
, que são em forma de agulhas.
Após um certo tempo, a pasta começa a enrijecer - devido ao entrelaçamento das agulhas de
etringita - até um determinado ponto em que, embora não tenha resistência, não é mais trabalhável,
atingindo então o início de pega (
Soroka,
1979
); para os cimentos nacionais, este não deve ser
inferior uma hora.
A partir daí já é perceptível a liberação de calor proveniente da hidratação do cimento e a pasta
torna-se cada vez mais rígida até que não permita mais o retrabalho da superfície, por exemplo,
com uma espátula, ou apresente marcas quando é pressionado com o polegar, dizendo-se então
que o fim de pega foi atingido; este deve ser inferior a 10 horas
2
.
No concreto, o mecanismo é similar, embora os tempos de início e fim de pega sejam superiores,
pois a maior quantidade de água do concreto com relação à pasta padrão torna maior a distância
entre as partículas de cimento e obrigam que os cristais da etringita cresçam mais para que haja o
entrelaçamento.
Para fins práticos, denomina-se concreto fresco o período em que ele é trabalhável - portanto antes
do tempo de pega - compreendido basicamente pela dormência. Nos pisos, a fase de acabamento
pode ultrapassar o início de pega, sendo tecnicamente correto dizer-se que ele ainda se encontra
trabalhável para determinadas operações, como o desempeno fino, que produz uma superfície bri-
lhante. A principal característica do concreto fresco é a sua trabalhabilidade.
Trabalhabilidade do
concreto
Embora seja constantemente confundida, a trabalhabilidade (
Scandiuzzi & Andriolo,
1986
) pode
ser entendida como sendo a facilidade com que um concreto pode ser misturado, manuseado,
transportado, lançado e compactado com a menor perda de homogeneidade. Termos como con-
sistência, plasticidade, coesão e fluidez expressam elementos de trabalhabilidade.
Muitas vezes a trabalhabilidade é confundida com a plasticidade, provavelmente devido ao fato do
concreto estrutural ser predominante e neste a consistência, medida pelo ensaio do tronco de cone
(
slump
), é a que melhor espelha a trabalhabilidade. Há, entretanto, outras, como a coesão e a as-
pereza que são bastante importantes à mistura fresca.
Concretos trabalháveis em determinadas circunstâncias não o são para outras. Por exemplo, veja-
se o caso de uma sub-base de concreto compactado com rolo, que é adensado por rolos vibrató-
rios, que difere substancialmente de um concreto com a mesma finalidade, adensado por vibrado-
res de imersão.
1
- A etringita é formada pela reação química entre o aliminato tricálcio e o gesso. Caso estre não esteja presente no cimento, ou em
quantidade inferior à necessário, o cimento apresenta peda instantânea (flash set) com forte desprendimento de calor de hidratação.
2
- As normas brasileiras que tratam das especificações dos diferentes tipos de cimentos apresentam o ensaio de fim de pega com
o optativo, mas para a matéria em questão, é importante que essa propriedade seja atendida.