Até recentemente, o termo "acessibilidade" era
desconhecido da grande maioria dos brasileiros e estava muito
associado aos direitos das pessoas portadoras de necessidades
especiais.
Entretanto, a cada dia os governantes vêm percebendo
a importância de oferecer soluções que
garantam a toda a sociedade o direito de usar a infra-estrutura
e equipamentos públicos urbanos de serviço
e lazer.
Como conseqüência desse processo, rampas e outras
soluções com pré-fabricados de concreto
participam dos novos projetos urbanísticos que facilitam
a mobilidade em áreas públicas levando em consideração
o conceito de cidadania, respeito à diversidade e
a democracia no espaço público.
No ano passado,
a CPA - Comissão Permanente de Acessibilidade, órgão
da Secretaria Municipal da Habitação e Desenvolvimento
Urbano de São Paulo, iniciou um estudo minucioso para
atender a demanda de se criar uma peça que considerasse
as normas técnicas de rebaixamento de guias, com ângulos
de inclinação, dimensões básicas
e faixas de sinalização.
Segundo
Edison Luis Passafaro, secretário executivo
da CPA, a idéia de realizar o estudo surgiu ao se
verificar a baixa qualidade da execução das
guias e rampas então existentes. "O concreto
das guias rebaixadas começou a esfarelar. Dessa experiência
ruim surgiu a idéia do rebaixamento pré-fabricado
que se tornou um produto fantástico", completa
Passafaro.
O desenvolvimento
das rampas ficou por conta da empresa Precast Consultoria & Desenvolvimento de Produto. A ABCP participou
do desenvolvimento do projeto, além do acompanhamento
e avaliação constante nas obras.
As rampas
pré-fabricadas são confeccionadas
em micro concreto, com especificação de fck
de 50 MPa e baixíssima relação água/cimento.
A matriz deste material é composta somente por agregados
miúdos. A dimensão máxima característica
admitida pela mistura é um pedrisco de 4,8 mm. Porém,
o micro concreto é de alto desempenho e reforçado,
pois recebe armadura de telas soldadas. A tela possui fios
de pequenos diâmetros e pouco espaçados (malha
de 5X5 cm e fios de 2,5 mm). Isso faz com que o concreto
ganhe resistência, tornando a peça durável.
A matriz cimentícia de alto desempenho, aliada a armação
de telas soldadas, garantem condições tecnológicas
que permitem a execução de peças pré-fabricadas
esbeltas e leves como são as rampas.
Cada peça tem espessura média de 3 cm (na borda
a espessura é de 5 cm pela necessidade de um enrijecimento
maior) e o peso das peças varia entre 200 e 250 quilos.
O comprimento da rampa (1,80 m), é em função
dos 8,33% de inclinação. Sua instalação
também é muito simples: ela é assentada
sobre bica corrida ou um leito de concreto.
O arq. Paulo Eduardo Fonseca de Campos, responsável
pelo projeto das rampas e proprietário da Precast,
explica que desenvolveu uma peça que, a princípio,
tinha como característica fundamental à leveza,
sem deixar de lado outros usos que dela se possa fazer. "Quando
projetamos um mobiliário urbano pensamos nas outras
situações que exigirão mais resistência
da peça, como, por exemplo, a passagem de motos. As
rampas pré-fabricadas estão de acordo com o
que há de mais moderno em termos de acessibilidade
em países desenvolvidos. Além de serem mais
resistentes, mais bem acabadas, ainda são econômicas",
ressalta o arquiteto.
A cidade
de São Paulo tinha apenas 15.000 rampas adaptadas,
exigidas por legislações municipal e federal.
Depois dessa parceria, o projeto de rebaixamento
tornou-se norma da NBR 9050 para incentivar
a melhoria das condições
de acessibilidade para pessoas portadoras de necessidades
especiais ou com mobilidade reduzida (mulheres grávidas,
idosos, entre outros).
Essa norma
fixa um parâmetro no qual é exigida
uma inclinação adequada, tratamento superficial,
que além de proporcionar uma beleza estética
oferece recurso para facilitar a travessia de pessoas que
tenham deficiência visual, como a faixa podotátil
que recebe uma pintura especial em amarelo.
A prefeitura
pretende intensificar o programa de rebaixamento de guias com
as rampas pré-fabricadas de concreto,
que têm custo inferior se comparadas às
convencionais. Além disso, em vez
de três dias, as pré-fabricadas
demoram apenas um dia para ficarem prontas.
A rua João
Cachoeira foi a primeira na capital paulista
a receber cerca de 40 rampas. As obras
foram rápidas, pois as peças
foram entregues em novembro e no mês
de dezembro prefeitura já estava
fazendo a inauguração.
Estima-se
inicialmente que 5.000 pontos de São
Paulo recebam as rampas. "Esse projeto
não proporcionou à população
só mais acessibilidade. Conseguimos,
através
do rebaixamento de guias, um projeto de
reurbanização.
Foi por meio da instalação
dasrampas que percebemos que as caçadas
estavam estreitas e destruídas,
o que desencadeou m trabalho cuidadoso
nas vias públicas”,
afirma Passafaro.
A partir
desse estudo desenvolvido pelo CPA, foi lançado
o “Guia para Mobilidade Acessível em Vias Públicas”,
com informações técnicas sobre como
adaptar e construir calçadas, ruas e avenidas, de
acesso facilitado para todos. Dirigidos a profissionais que
atuam em projetos urbanos, este guia informa ainda sobre
códigos e leis de acessibilidade. A distribuição é gratuita
para prefeituras (pedidos podem ser feitos pelo e-mail cpa@prefeitura.sp.gov.br).