Concreto vence grandes vãos em hotel no interior de São Paulo



Construtores se beneficiam das vantagens da armação com Telas Soldadas

É reconhecido que o concreto armado, quando solicitado a vencer vãos relativamente grandes, tem seu desempenho melhorado por meio da protensão de suas peças, que sofrerão grandes esforços de flexão. No entanto, o emprego das técnicas de protensão, fora dos grandes centros, ainda esbarra em questões de ordem econômica e na falta de conhecimento aprofundado dessa tecnologia.

Por conta disso, muitos empresários já estipulam aos engenheiros estruturais a utilização do chamado "concreto armado convencional". Foi o que ocorreu, por exemplo, na obra do Mariá Hotel, na cidade de Araçatuba, interior de São Paulo.
No caso, as dificuldades foram vivenciadas pelo engenheiro estrutural do empreendimento, Rodrigo Piernas Andolfato, junto ao construtor: "ele não é engenheiro, mas sempre foi um grande construtor, sabe das vantagens do concreto armado e gosta muito de usá-lo."

O Hotel, que apresenta estrutura horizontal, tem cerca de 7.000 m² de área construída, de um total de pouco mais de 40 mil m² de área do terreno.
Além de 84 apartamentos e 2 suítes master, o Mariá Hotel conta com centro de convenções para 300 pessoas, piscina, sauna, spa, pista de "cooper" com 200 m, salão de jogos, "salão de beleza", salas de negociação", quadras de tênis e squash, além de ampla área verde e estacionamentos.
Durante a construção do centro de convenções e da garagem do Hotel, o engº. Andolfato venceu as resistências do empresário e conseguiu autorização para executar a obra com concreto armado com telas soldadas, ao invés dos antigos vergalhões. A opção pela utilização das telas se deu por motivos de controle de fissuração nos painéis, devido à retração de efeitos térmicos, uma vez que o comprimento total do painel de laje é de 41,30 m com largura de 23,10 m.

No início houve questionamento de todos, desde os armadores, que nunca tinham trabalhado com tela soldada, até o corpo técnico da construção. Porém, depois que executaram a disposição das telas sobre as fôrmas a receptividade foi a melhor possível" afirma o engenheiro, destacando que, agora, a tecnologia já está sendo executada em todas as obras da construtora.

Contudo, o que mais chama atenção na obra não são os aspectos referentes aos materiais utilizados, mas sim à concepção estrutural adotada. A exigência arquitetônica permitia vigas com no máximo 80 cm de altura e vãos de eixo a eixo entre pilares de 11,20 m.

Para vencer tal problemática, o engº. Andolfato lançou mão de modelar a estrutura dentro de um programa de elementos finitos deixando a laje "trabalhar" na condução de parte dos esforços até os pilares, tendo a outra parte dos esforços suportada pelas vigas.

"É como se a estrutura trabalhasse em parte convencionalmente e em parte formada por lajes apoiadas diretamente em pilares", explica.
Em virtude da flexibilização das vigas por sua altura reduzida, muitos esforços foram exacerbados nesses pontos, devido ao momento de engastamento da laje nos pilares, permitindo assim um alívio de cargas nas vigas e conseqüente acúmulo de esforços nas lajes nos pontos sobre os pilares. As telas utilizadas nas ‘cabeças’ dos pilares centrais foram as Q636, em razão dos esforços bastante pronunciados por conta dos momentos negativos.

No total, foram utilizados na obra do centro de convenções garagem cerca de 300 m³ de concreto, com especificação de fck de 35 MPa, além de 25 t de aço, sendo 10 t de telas soldadas.

Um fato curioso relacionado à obra é que os mesmos armadores, que no início tiveram dificuldade para entender o projeto e aceitar as armações com telas soldadas, passaram não só a executar seu trabalho com mais eficiência e agilidade, como também criaram um modo bastante peculiar de armar a malha positiva, dando continuidade entre essas armaduras através dos painéis.

No projeto havia uma linha de corte entre as telas positivas que entravam na viga. No entanto, os armadores dispensaram essa linha de corte, armando as vigas logo depois da colocação das malhas positivas. "Isso mostra como a difusão de novas tecnologias vem não só trazer benefícios à obra em si, como também à própria tecnologia", comenta o engº. Andolfato.

 

 
 
     
 
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