Iniciativas de Sucesso em
Técnicas Construtivas

Impulsionado pela tendência irreversível de globalização da economia, o segmento da construção, já há alguns anos, vem investindo esforços e estudos na tentativa de descobrir novos sistemas ou processos construtivos que dêem conta do binômio produtividade-competitividade. Várias dessas iniciativas têm se revelado perfeitamente viáveis para os padrões nacionais e vão, com o passar dos anos, se popularizando entre engenheiros, arquiteto e construtores. Ao longo de suas nove edições, o Tecnologia do Concreto armado em Notícias tem procurado dar espaço a todas as novas técnicas que demonstrem sua viabilidade e tenham como premissa a valorização do concreto armado como elemento construtivo. Nesta matéria, destacaremos algumas delas.

Novas técnicas para paredes

A Gethal desenvolveu uma tecnologia apropriada para execução de paredes moldadas in loco com concreto celular. De acordo com esse sistema, as edificações têm paredes autoportantes, suportando, inclusiva, a laje armada que cobre as casas. Por suas características, o concreto celular é excelente para o fator escala, ou seja, quando se tem muitas construções com as mesmas características e, principalmente, para conjuntos habitacionais populares.

Dentre as diversas vantagens oferecidas, estão a velocidade proporcionada (uma casa pode estar com todas as paredes erguidas entre um e dois dias) e o excelente desempenho térmico. essa tecnologia já está em uso em vários lugares do mundo e começa a se popularizar no brasil, onde já foram construídas mais de 30 mil casas.

Criado pela Glasser, o Sistema de Vedação Modular em Alvenaria é uma nova tecnologia para construção de paredes em empreendimentos imobiliários verticais. As paredes são construídas a partir de blocos de argamassa leva, vazados que permitem a passagem de toda a fiação e encanamento, oferecendo também excelente característica de isolamento. Os bons resultados desse sistema construtivo estão sendo registrados pelo Depto. de Engenharia de São Paulo, que analisa o desempenho mecânico da alvenaria de vedação.

Durabilidade, velocidade, resistência, organização, versatilidade. Essas são algumas das vantagens oferecidas pelo conceito de construção de painéis estruturais de fechamento, também chamados de painéis arquitetônicos. Eles se destacam dos demais sistemas pela produção industrializada, são pré-fabricados em instalações adequadas, com equipamento de alta tecnologia e rígido controle dos materiais. Assim, as "paredes" chegam à obra totalmente prontas, necessitando apenas serem encaixadas na estrutura da construção. Esse encaixe é feito através de insertes metálicos, com sistema de fixação aparafusado ou soldado.

Já o Sistema Construtivo Sergus consiste no emprego de fôrmas metálicas tipo túnel para a moldagem in loco de paredes e lajes de concreto armado, simultaneamente e em ciclos sucessivos. Definida a arquitetura do edifício e dimensionados os componentes estruturais, o processo de fôrmas metálicas, com módulos justapostos (túneis), permite um adequado controle geométrico das peças e a obtenção de superfícies aptas a receberem o acabamento.

O sistema destina-se à construção de edifícios multipiso (residenciais, comerciais ou industriais) e permite racionalização da construção, caracterizando-se pela rapidez na execução, em função de ciclos diários de montagem e desmontagem das fôrmas metálica. As paredes e lajes são armadas com telas soldadas, barras e treliças de aço, conforme o projeto estrutural. Esse sistema construtivo foi o primeiro do Brasil a receber do IPT a "referência técnica" em função dos resultados obtidos nas avaliações feitas pela entidade.

O sistema "tilt-up", que vem ganhando espaço no Brasil a partir da metade da década de 90, consiste na execução de painéis obtidos através da concretagem de placas armadas com telas soldadas que, depois de erguidos, se transformam em paredes estruturais autoportantes. Essa concretagem é executada no próprio canteiro de obra, propiciando importante redução nos custos com transporte. O sistema também possibilita maior versatilidade arquitetônica e a personalização dos empreendimentos, permitindo executar obras com diversos formatos (aproveitando-se, assim, qualquer irregularidade do terreno). As dimensões dos painéis variam de 30 a 60 m2 podendo chegar a 15m de altura; a espessura média é de 15cm.

O "tilt-up" gera ainda grande otimização dos serviços. No sistema convencional, da terraplanagem à inauguração de uma obra, normalmente se leva cerca de 11 meses, sendo que, com o emprego da nova tecnologia, o prazo de execução cai para em média 4 meses. e, em relação à mão-de-obra, se a média na construção de uma obra em ritmo forte empregava de 40 a 50 homens, por exemplo, com o "tilt-up" o número de pessoas não ultrapassa 20.

Tecnologia para pisos industriais

Resultado da utilização de modernos equipamentos de execução disponíveis e das novas metodologias de dimensionamento para pisos industriais, o "jointless" nada mais é do que uma designação empregada para definir "pisos sem juntas" e no Brasil a expressão também está sendo utilizada para pisos com quantidade de juntas inferior ao usual, com o emprego de placas de concreto com dimensões superiores a 500m2. possibilitando menor número de juntas, o "jointless" propicia menores custos de manutenção, já que esses elementos são os pontos mais vulneráveis do piso, aumentando sua durabilidade e tornando a rodagem das empilhadeiras mais suave.

Para o emprego do conceito "jointless" faz-se necessária a utilização de equipamentos como a Laser Screed que permite concretagens de áreas grandes, sem a necessidade do emprego de fôrmas intermediárias. Por outro lado, o piso deve ser dimensionado para receber os esforços adicionais oriundos do empenamento e da retração de uma placa de grandes dimensões, evitando que ocorra fissuras no concreto.

Exemplo desse processo é o Centro de Distribuição operado pela McLane e inaugurado em 1999, em São Paulo, com a utilização de placas com até 750m2 e ausência completa de fissuras, sendo que este conceito permitiu o posicionamento adequado da tela soldada, combatendo tensões de empenamento.

Em se tratando de pavimento, o viaduto Deputado Luis Eduardo Magalhães, inaugurado no final de 1998, traz novidades em sua estrutura. Constituído da obra principal e estrutura de prolongamento, o viaduto, em sua extensão total, tem 410m, com largura de 28m, suficientes para receber duas pistas com 3 faixas de tráfego cada, separador central e passeios laterais.

Resultado de um arrojado projeto, os pilares e respectivos capitéis são os principais destaques arquitetônicos do viaduto, proporcionando uma leveza estrutural dificilmente obtida neste tipo de obra. Uma das principais atividades é justamente a incorporação do pavimento de concreto na laje estrutural, ou seja, a laje superior do viaduto é executada segundo a conformação e as cotas finais de pavimento acabado, tendo assim a função estrutural e de pavimento. Este procedimento representou uma economia de cerca de 290m3 de concreto, quando comparado ao procedimento normal da laje e pavimentos independentes, além de um prazo menor de execução, com garantia de melhor qualidade, pois evitou-se tratamentos e problemas com juntas, tão comuns quando se executa a laje e depois o pavimento que deve aderir a ela.

O viaduto Deputado Luis Eduardo Magalhães é dotado de amplo sistema de sensores eletrônicos instalados durante as etapas de sua construção, prestando-se ao acompanhamento permanente do comportamento estrutural, das deformações e deslocamentos ao longo de sua visa útil.

Concretos especiais

A utilização de nova tecnologias do concreto dosado em central foi fundamental para viabilizar a obra de expansão da unidade de laminadores da Alcan Alumínios do Brasil S/A, em Pindamonhangaba (SP), transformando-a na maior laminadora de alumínios da América do Sul. Para se ter uma idéia das características diferenciadas desta obra, o projeto de construção previa a execução de grandes blocos de concreto (volume de até 3 mil m3), aliados a traços superiores a 25 MPa (com alto consumo de cimento). Para evitar o risco de fissuras - devido ao intenso calor gerado pela reação de hidratação do cimento - construtora e concreteira desenvolveram um trabalho conjunto que consistiu na climatização dos agregados em condições específicas, utilização de cimento apropriado a este tipo de concreto e controle rígido da temperatura do cimento.

Entre as novas tecnologias, destaque para o uso de concreto fluido em algumas peças com grande concentração de ferragens, utilização de concreto com fibras da náilon (nas bases dos reatores, a fim de evitar a corrosão), emprego de armaduras de aço inox nas bases dos equipamentos (também para evitar a oxidação).

Contenção com pré-moldados

Nos últimos anos, ganhou espaço no segmento construtivo uma nova tecnologia para muros de arrimo e contenção: a utilização de blocos pré-fabricados de concreto, com o objetivo de oferecer a arquitetos, engenheiros e construtores, uma solução para estruturas de arrimo de ótimo aspecto arquitetônico e grande resistência estrutural, substituindo os tradicionais gabiões.

Por suas características, os blocos são indicados para muros de contenção de média e grande altura, e também como solução paisagística para pequenas muretas. Entre as principais vantagens proporcionadas pelos blocos de concreto para muros de arrimo estão o sistema de construção seca (sem a necessidade de argamassa para fixação), a rapidez na construção e o fato de não exigir mão-de-obra especializada.

Um marco mundial

São Paulo será a primeira cidade do mundo a possuir uma estação metroferroviária numa ponte estaiada. Estão em fase de conclusão os trabalhos de construção da Estação Santo Amaro da CPTM (Cia. Paulista de Trens Metropolitanos). A ponte estaiada que está sendo construída sobre o rio Pinheiros será a segunda do Brasil a entrar em operação. A outra foi construída nos anos 70, em Salvador, numa alça de acesso rodoviário do transbordo da Lapa.

A ponte terá um único plano central entre as 2 vias férreas, com 4 vãos (2 de equilíbrio, com 35,75m e 50m, o de travessia do rio, com 122m, e 1 não-estaiado de 23m), totalizando 230m de extensão entre juntas de construção. Atirantada a um mastro com altura de 53m acima do tabuleiro, a superestrutura é constituída de um "caixão" em concreto protendido, com 2,50m de altura constante e 8,30m de largura, onde se situam as vias metroviárias. As plataformas laterais de embarque e desembarque serão apoiadas em 2 elementos pré-moldados de 6,08m, em balanço, que serão incorporados ao "caixão" através de protensão transversal. O tabuleiro é engastado nos pilares localizados nas extremidades dos vãos de 35,75m e 50m e apoiados nos pilares restantes.

O mastro, situado na entrevia ferroviária, é constituído de concreto armado, com seção vazada variável nos primeiros 18m e seção constante no trecho final. O seu interior abriga as ancoragens reguláveis, possibilitando inspeção, retensionamentos e eventual substituição. Os estais, também denominados "tirantes", são constituídos por cordoalhas paralelas, montadas e tensionadas individualmente. O estaiamento é composto por 34 estais. A ancoragem é feita na laje superior do tabuleiro, no interior do caixão e na face interna do mastro.

Esse são apenas alguns exemplos de iniciativas criativas e de sucesso do segmento de concreto armado no Brasil, colocando-o no mesmo patamar das mais desenvolvidas nações, o que nos permite vislumbrar um futuro ainda mais promissor nesse início de terceiro milênio.

 

 

 

 
 
     
 
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