O
Concreto de Alto Desempenho - CAD é um dos materiais de construção
que mais tem se desenvolvido nos últimos anos, tanto no Brasil quanto
mundialmente, fato este acompanhado em todas as edições do jornal
Tecnologia do Concreto Armado em Notícias. Desenvolvido na Noruega
na década de 50 e adotado no Brasil há 10 anos, o CAD é um concreto
de avançada tecnologia, cujos constantes estudos e experiências
têm possibilitado significativas evoluções na qualidade do produto
nos últimos anos.
Superando
em excelência a principais características do concreto tradicional
- como resistência mecânica inicial e final elevada, baixa permeabilidade,
alta durabilidade, baixa segregação, boa trabalhabilidade, alta
aderência, reduzidas exsudações e retrações, entre outras - graças
à misturas de cimentos e agregados convencionais com sílica ativa
e aditivos plastificantes, o CAD é reconhecido pela sua baixa relação
a/c (em torno de 0,4) e valores de resistência que podem ultrapassar
120 MPa. Devido a essas características, é especialmente apropriado
para projetos onde a durabilidade com economia é condição indispensável
para sua execução.
Muitas
são as vantagens que justificam o crescente emprego do CAD n setor
da construção. No Brasil, é possível destacar três fatores fundamentais:
a alta durabilidade, a possibilidade de se construir estruturas
mais esbeltas e a resistência do material em regiões particularmente
agressivas.
Durabilidade
inquestionável
Segundo
o Prof. Pierre-Claude Aïtcin, da Universidade de Sherbrooke e diretor
científico no Canadá do Centro de Excelência em Concreto de Alto
Desempenho (que esteve no Brasil em 1999 proferindo palestras e
acaba de lançar a versão em português de seu livro sobre o tema),
a durabilidade é, sem dúvida, a principal responsável pelo crescimento
no uso do CAD em todo o mundo.
Um
exemplo claro é a Torre Norte do CENU - Centro Empresarial Nações
Unidas, em São Paulo. Com 84 mil m2 de área construída e 158m de
altura, distribuídos em 36 pavimentos, a Torre Norte é atualmente
o maior edifício do país construído com esse material. Ao todo,
foram utilizados na estrutura 28 mil m3 de CAD (com fck variando
entre 30 MPa e 50 MPa, com adições de sílica ativa, cujas dosagens
eram constantemente reavaliadas na medida em que a estrutura se
tornava mais alta). Na análise do Prof. Paulo Helene, titular da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, a primeira avaliação
das condições da estrutura do prédio somente precisará ser feita
daqui há 250 anos.
A
vida longa proporcionada pelo CAD tem produzido outro resultado
significativo: seu uso está sendo priorizado em áreas como a de
construção hospitalar, onde qualquer manutenção ou reforma futura
implicam numa série de transtornos e dificuldades, devido às características
de utilização do prédio.
Esbeltez
e resistência à corrosão
A
necessidade de se potencializar os espaços internos, uma das novas
características do mercado da construção civil no Brasil, vem levando
cada vez mais construtoras a optarem pelo uso do CAD em suas obras.
O CAD possibilita, por exemplo, que, em uma mesma metragem total,
seja aumentado em até 20% o número de vagas numa mesma garagem,
ou mesmo torná-las mais espaçosas, a fim de atender a uma demanda
de consumidores que possuem veículos de grande porte. Além disso,
o Concreto de Alto Desempenho também pode proporcionar ganho de
espaço no pé-direito das pavimentos, em virtude da menor espessura
das lajes planas.
Graças
à imensa faixa litorânea, o Brasil apresenta outro fator de risco
para as construções, que é a corrosão gerada pela atmosfera salina.
O CAD tem demonstrado ser uma excelente opção para vencer essas
condições adversas, como por exemplo, no caso do Complexo Industrial
e Portuário de Pecém, no Ceará. Trata-se do primeiro porto do país
construído com Concreto de Alto Desempenho. O objetivo dos empreendedores
era obter uma estrutura resistente, com baixa porosidade e maior
durabilidade, reduzindo assim os custos de manutenção. A obra foi
totalmente executada em CAD com fck 50 MPa, num volume total de
48 mil m3.
Outro
exemplo recente é a construção do Complexo Turístico Costa do Sauípe,
localizado a 70 km do Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães,
em Salvador (BA). O Complexo tem 5 hotéis de alto padrão, 6 pousadas
e um centro comercial e de entretenimento numa área de 150 mil m2
ecologicamente protegida. O CAD (50 MPa) foi utilizado em 100% do
concreto estrutural da obra, perfazendo um total d 75 mil m3 entre
estruturas convencionais, pré-moldados, argamassa especiais e outros.
A atmosfera marinha extremamente forte do local e atuante nas estruturas
levou à utilização de sílica ativa no concreto para garantir níveis
de porosidade compatíveis com o ambiente e fibra de polipropileno
para minimizar a retração hidráulica do concreto.
Intercâmbio
O
crescimento na utilização do CAD por todo o país tem levado as entidades
do segmento de concreto a promover palestras, simpósios e congressos
com personalidades internacionais do setor, visando a troca de experiências
e o acompanhamento das avanços verificados em outro países.
Segundo
o Prof. Michel Serge Lorrain (Institut National des Sciences Apliquées
de Toulouse - França), que participou de simpósio promovido pelo
IBRACON sobre Estruturas de Concreto de Alto Desempenho, realizado
em agosto de 1998 na cidade de São Paulo, as pesquisas e estudos
desenvolvidos na França comprovam ser o CAD o futuro da engenharia
civil. Já o Prof. Aïtcin apresentou uma nova possibilidade de utilização
do CAD na área da pecuária. Segundo o pesquisador, como o CAD tem
porosidade menor e, evidentemente, uma superfície mais fechada,
é, portanto, menos favorável à acumulação de fungos e bactérias.
Além disso, por ser impermeável, facilita a limpeza.
Seguindo
as linhas sugeridas pelo Prof. Aïtcin, o Prof. Geraldo Gomes Serra,
coordenador científico do NUTAU (Núcleo de Pesquisa em Tecnologia
de Arquitetura e Urbanismo) da Universidade de São Paulo, já realiza
estudos em fase adiantada visando a produção de peças pré-moldadas
com durabilidade elevada e resistências altíssimas.
As
aplicações do CAD atingem também as estruturass que necessitam de
reparo, graças à excepcional capacidade de aderência ao concreto
velho.
Economia e expansão
Nos
últimos anos, o Concreto de Alto Desempenho tem conseguido vencer,
inclusive, o mito de que trata-se de um material caro. De acordo
com o Prof. Geraldo Serra, a diminuição do volume de concreto e
a menor quantidade de fôrmas e armaduras, além da economia com a
manutenção, compensam plenamente a opção pelo CAD.
"Embora
todas as pessoas ligadas à indústria da construção estejam perfeitamente
conscientes das óbvias vantagens do uso do CAD, ainda é possível
notar, em alguns poucos, a impressão de que se trata de material
de laboratório, ou então, que exige controle tecnológico tão rigoroso
que torna a sua aplicação inviável nas obras comuns, ou ainda que
se trata de coisa para países desenvolvidos, sem condições de aplicação
no Brasil. Esses preconceitos vêm sendo superados, dado o número
de casos em que se tem utilizado CAD no Brasil", explica o professor.
Um
dos materiais que mais evoluiu nos últimos anos e vivendo uma fase
de crescente emprego em todo o mundo, o CAD encerra o século XX
transpondo o patamar de produto experimental ou ainda de desenvolvimento
e entra neste novo milênio como uma realidade, aliás, um dos expoentes
quando se fala em construção civil.
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